Os
contos de fadas são uma variação do conto popular ou
fábula. Partilham com estes o fato de serem uma narrativa curta, transmitida oralmente, e onde o
herói ou heroína tem de enfrentar grandes obstáculos antes de triunfar contra o mal. Caracteristicamente envolvem algum tipo de magia, metamorfose ou encantamento, e apesar do nome, animais falantes são muito mais comuns neles do que as
fadas propriamente ditas. Alguns exemplos: "
Rapunzel", "
Branca de Neve e os Sete Anões" e "
A Bela e a Fera".
Características dos contos de fadas
- Podem contar ou não com a presença de fadas, mas fazem uso de magia e encantamentos;
- Seu núcleo problemático é existencial (o herói ou a heroína buscam a realização pessoal);
- Os obstáculos ou provas constituem-se num verdadeiro ritual de iniciação para o herói ou heroína;
[editar] Morfologia dos contos de fadas
Em seu famoso estudo sobre o conto maravilhoso (no qual inclui os contos de fadas), V.I. Propp afirma que ele "atribui freqüentemente ações iguais a personagens diferentes".
[3] Estas ações (mais adiante denominadas "funções") nos permitiriam estudar os personagens dos contos a partir das mesmas. Tendo isto em vista, Propp elabora quatro teses principais:
- "Os elementos constantes, permanentes, do conto maravilhoso são as funções dos personagens, independentemente da maneira pela qual eles as executam. Essas funções formam as partes constituintes básicas do conto."
- "O número de funções dos contos de magia conhecidos é limitado."
- "A seqüência das funções é sempre idêntica."
- "Todos os contos de magia são monotípicos quanto à construção."
Contudo, as teses de Propp foram objeto de críticas, particularmente por parte do
antropólogo Claude Lévi-Strauss. No ensaio "A estrutura e a forma" (publicado nesta mesma edição da obra de Propp), ele observa:
“ | Vimos que o conto de fadas é uma narrativa explicitando funções, cujo número é limitado e cuja ordem de sucessão é constante. A diferença formal entre vários contos resulta da escolha, operada individualmente, entre as trinta e uma funções disponíveis e da eventual repetição de certas funções. Mas nada impede a realização de contos com a presença de fadas, sem que a narrativa obedeça à norma precedente; é o caso dos contos fabricados, dos quais podemos encontrar exemplos em Andersen, Brentano e Goethe. Inversamente, a norma pode ser respeitada apesar da ausência de fadas. O termo 'conto de fadas' é, pois, duplamente impróprio. • Problemática existencial: morte, vida, amor, envelhecimento, separação, sexualidade, dilemas edipianos, rivalidades fraternas, etc.
• Início feito para partir do aqui e do agora, mostrando que a história se passa longe do mundo real: “Era um vez...” “Há muitos e muitos anos...”
• Final feliz, pois após tanto sofrimento a criança precisa de alívio: “E viveram felizes para sempre...”
• Obstáculos a vencer: são uma forma de crescimento interior.
• Elementos de encantamento e dicotomia: bem versus mal.
• Narrativa: complexa, com a presença de muitos diálogos.
• Presença de um narrador: figura que detém todo o conhecimento e que é “dono da vida” dos personagens.
• Vocabulário rico.
• Acontecimentos: encadeiam-se não por laços lógicos, mas por laços afetivos.
• Presença de castelos (resquícios medievais) e bosques (onde o encantamento acontece).
• Presença marcante da natureza.
• Abordagens de relações: pai, mãe, madrasta, madrinha (conceito social de apadrinhamento).
Os contos de fadas apresentam a divisão de personagens entre bons ou maus, trabalhadores e preguiçosos, feios ou bonitos. Na vida real as pessoas podem ser boas e más ao mesmo tempo. A mente das crianças, porém, funciona muito bem classificando as coisas em dois pólos. Por isso os contos de fada são mais acessíveis para que o pensamento delas faça seus juízos de valor e as ajude a “encontrar” uma personalidade, já que terá que escolher entre os personagens aqueles com os quais mais gostaria de parecer, e torcer por ele. As crianças tampouco se importam em discernir entre certo e errado. Elas se identificam prontamente com o personagem que acham mais direto e simpático, que a atinge. Se o personagem é uma pessoa boa, ela também quererá ser boa. Existem as histórias amorais, como aquela de João que rouba o tesouro do gigante. Nelas, não está em jogo a promoção de valores do bem ou do mal, ou ética. Só a premissa de que o personagem precisava alcançar o sucesso. Aí entra em jogo uma questão do problema existencial: a vitória e a derrota como dificuldades que a vida certamente apresentará. Porque ser bom e certinho, mas insignificante? Nesse caso ela pode até concluir que existem saídas (roubar o tesouro do gigante) para os problemas que a vida apresentar. Ou que ela, mesmo sendo muita pequena em relação ao gigante, pode vencê-lo. De qualquer maneira, esses contos possuem uma linguagem simbólica eficaz na imaginação e principalmente na formação da personalidade das crianças
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